Cinepipoca: As Vantagens de Ser Invisível
CINEPIPOCA – OCUPAÇÃO CULTURAL ERMELINO MATARAZZO
Exibição de 05/05/2016 – Filme: As Vantagens de Ser Invisível
Tema: Saúde Mental – Mês da Luta Antimanicomial
Nós somos infinitos.
É notável como o filme é capaz de fazer cada um dos espectadores se identificar de alguma maneira com o Charlie, entendendo a personagem muito além do seu caráter de paciente psiquiátrico. Giramos em torno da expressão “Nós somos infinitos”. O que é ser infinito? De alguma maneira, parece que cada um tem uma compreensão bastante própria sobre o significado dessa palavra no contexto, mas também bastante inexprimível. Essa é inclusive uma das faces que o filme nos mostra: a solidão. Ser infinito talvez seja vencer a solidão, compartilhar a experiência, o momento em si, conexão. Pertencer. Sentir-se parte de algo maior.
Muitos questionamentos foram levantados e discutidos durante o debate após o filme. Mas escolhemos uma maneira mais lúdica e direta de transmitir um pouco do que foi conversado nesse momento. Colhemos depoimentos de loucos e loucas que participaram da conversa ou que assistiram ao filme em outro momento, tendo se identificado e se relacionado com a personagem principal. Partimos de uma questão norteadora bastante simples e abaixo expomos as respostas. Esperamos com isso aproximar o debate sobre saúde mental de mais e mais pessoas.
Se você também é Charlie, coloque seu depoimento nos comentários que acrescentaremos a esse texto colaborativo nascido da experiência do Cinepipoca realizado pelo Movimento Cultural Ermelino Matarazzo.
Por que também sou Charlie?
“Sou Charlie quando me deparo com alguns momentos de solidão. O encontro com o infinito se deu em contato extremo com a arte. Tal movimento despertou um olhar atento ao mundo, ao meu mundo, onde o esconderijo era de me recuar e de não me expressar de fato. Busco enfrentar meus conflitos de maneira consolidada ao que acredito ser o viés das minhas sensações mais íntimas. Trago na arte, na escrita, nas plásticas meu sentir, meu livramento e minhas angústias. E percebo que isso me acalenta, me impulsiona e me faz ver o quanto somos diferentes, e ao mesmo tempo o quanto somos iguais. A loucura está em mim, assim como eu estou para o mundo.”
Vander Che
“Sou Charlie porque também me sinto um desajustado. Me sinto pequeno frente ao mundo, frente ao sofrimento e as dores que ele me impõe. Me sinto fraco e numa busca constante, eterna e infinita, por pertencimento, por compreensão, por inteireza. Porque me sinto incompleto e essa mesma incompletude que me massacra me permite… sentir, pensar, viver. Sou Charlie porque às vezes tenho a impressão que o mundo inteiro é uma grande farsa, um grande teatro no qual todos estão interpretando a todo momento, e sabem exatamente seus papéis, mas por algum motivo meu personagem foi deixado inacabado, esquecido, e não consegue transitar neste universo. E me dói quando percebo que na verdade muitos sentem isso que sinto, e me alegro por não estar sozinho em minha dor, e me entristeço por serem tantos os que padecem dela…”
Gustavo Soares
“Sou Charlie porque também sou invisível aos olhos do mundo em que vivo, onde meu valor se restringe ao quanto podem me usar. Sou Charlie porque também sofro por aqueles que amo e quero salvá-los sem saber ao certo como ou de quê. Sou Charlie porque me apaixono por fragilidades. Sou Charlie porque sinto falta dos meus amigos, daqueles que foram embora, daqueles que ficaram mas não sabem como continuar a vida. Sou Charlie porque também já tentei curar certas dores em momentos de fraquezas desistindo da vida. Sou Charlie porque amo as luzes dos prédios de noite, dirigir bem rápido e ouvir David Bowie no último volume. Sou Charlie porque sinto dor, mas sei que só os momentos de felicidade são infinitos!”
Mayara Gati