Cinepipoca: O Filho de Caim

CINEPIPOCA – OCUPAÇÃO CULTURAL ERMELINO MATARAZZO

Exibição de 09/06/2016 – Filme: O Filho de Caim

Nem tudo é o que vemos, sentir faz toda a diferença

Será que algum dia, eu, você, nós, iremos aprender a não julgar sem antes analisar profundamente os FATOS? Será que algum dia, seremos capazes de enxergar aquilo que vemos, só que de outra maneira? Quando o encalço incomoda os pés é fácil perceber, é fácil sentir; uma roupagem elegante para uma ocasião “x” ou “y” também é notável aos nossos olhos, e nos ajuda para julgar ou apontar opiniões diversas. Perceber no olhar possíveis erros e acertos faz parte da nossa maneira de julgar sem conhecer profundamente a situação. Quantas ideias perpassam em nossa mente? Quantas vezes pensamos que o mundo seria melhor se eliminássemos o mal, a maldade, o que é ruim e o que não nos agrada? Se essas coisas acontecessem ao pé da letra, tudo seria lindo, maravilhoso, gostoso demais para viver.

Fazer tais análises nos dias de hoje em meio a tantas informações – viu só? Esse texto já deixou de ser prioridade para você, leitora ou leitor – talvez seja o que mais nos distancia de resolvermos pequenos problemas. A correria da vida tem se tornado cada vez mais correria, ao passo que nunca temos tempo para resolvermos algumas coisas básicas do cotidiano, entediamo-nos a todo o momento, quando nos percebemos sem ter o que fazer mediante a tanta coisa para se fazer. Mas o difícil mesmo é encarar os desafios, enquanto a espera por milagre e glória se exalta dos céus ou mesmo de uma psicóloga/psicólogo se acaba se tornando a única forma ou atitude a se fazer, para se esperar a resolução dos nossos conflitos.

Buscar sentidos na vida de Nico (personagem do filme O filho de Caim), quando as relações familiares são conturbadas (vigente conflito entre Nico e Carlos – pai) desde a infância até a fase da adolescência não é uma situação de preocupação apenas da psique ou apenas da família. Quando esses problemas se alastram para o convívio social e coletivo, algumas atenções e principalmente algum acompanhamento são necessários, para entender e tentar uma forma de minimizar a ansiedade. Comportamentos de competitividade, de ser o melhor no xadrez, de avançar sem sentimentos e sem pudor, incomunicável com os pais e intimamente ligado a irmã… Talvez fosse uma situação inusitada achar isso normal ou compreensível, mas não é.

Colocamos em discussão nossas ações. Sendo voluntárias ou não, pensadas ou não, permissíveis a um combinado ou não, influentes para nós ou não, sempre teremos algumas “regras de comportamento” para nos enquadrar e nos sentirmos aliviados ou assegurados de críticas e, quando são quebrados tais combinados, eis que conflitos e julgamentos são efetuados para alimentar nossa idéia de perfeição. Mas, às vezes – ou quase sempre – perdemos conta de que: ninguém é perfeito, não é mesmo? Porém, até a discussão do: ser ou não ser, eis a questão, sugere que tenhamos milhões de alternativas e propostas para, de fato, fazer aquilo que achamos adequado em cada ocasião.

As situações as quais vivemos e a forma como encaramos os problemas particulares são indiferentes das regiões que habitamos, das vivências, das culturas, das conexões que construímos durante a vida em todas as suas fases. Algumas carregamos geneticamente de nossos ancestrais, outras adquirimos em contato com outras pessoas e tantas outras são aguçadas em nossa mente a todo o momento. E qual é a mente que não mente? Qual é a mente puramente verdadeira? Em quais suportes devemos nos apoiar, quando nos desvencilhamos de algumas atitudes, quando corremos riscos ao realizar coisas novas? Se acharmos essas respostas, estaremos a um passo da eterna felicidade.

Tais padrões pré-estabelecidos estão em conflitos há tempos com a realidade e no meio delas estamos nós, humanos que se constroem e se desconstroem a todo instante.

Para Nico, o real seria ele ser único, seu pai ser o abusador de sua filha pequena, ou sua mãe ser a culpada por tudo de ruim que acontece por ter tido, anos atrás, uma relação mal resolvida com o psicólogo, que foi contratado para realizar terapia com Nico. Porém, as buscas do alicerce em cima de atitudes nada convencionais estão tão ligadas ao nosso superego que não damos conta dessas imersões em nossas atitudes, mas a realidade é que estamos tão vazios de nós mesmos que não percebemos o que está a nossa frente. A mudança dói e incomoda.

Com essas palavras, tento contribuir para com nossas atitudes, que elas sejam repensadas, sejam – quem sabe – analisadas com outros olhos para, assim, não termos as mesmas ações de julgar sem saber e cometer possíveis erros irreversíveis.

Não será fácil agir assim, muito menos sentir que também temos transtornos, problemas mal resolvidos, porém enxerga-los e encara-los será nossa labuta cotidiana, será nosso desafio. Impressionante seria estarmos com todos os problemas resolvidos todos os dias, isso seria algo que está muito além da pretensiosa utopia. Mas nada é impossível, nada é inalcançável, nada pode nos deter (rsrsrs…) a não ser nós mesmos com nossos próprios medos e ressentimentos.

Que o Nico em nós não se sobressaia, que as aberrações da humanidade não sejam mais fortes do que nossa vontade de viver, que a vontade de competir não seja maior ou melhor do que nós mesmos.

Melhor é estar e se sentir vivo, é poder ser o que quiser ser, sem atrapalhar a vida alheia. Somos – ainda – comunidades, somos seres pensantes – em alguns casos – e agitadores de alguma coisa, portanto façamos isso valer a pena. Devemos nos valorizar para além do ego, para além do ser-super-ego-humano, para além de nós mesmos. Juntos, conseguimos superar nossos desafios e para isso temos algumas opções: ou conseguimos superar na coletividade tudo que nos amedronta ou seremos surrupiados pelo nosso inconsciente, sem nos darmos conta das tragédias e degradações que podem acontecer se nos alimentarmos apenas do nosso ser, do nosso sentir, do nosso viver. Viveremos bem melhor, quando o verbo se multiplicar e não dividir. Seremos melhores quando não tivermos a ganância de sentir poder, quando o dinheiro e status não forem a única prioridade. Nesse dia seremos livres, aceitos e mais humanos, com certeza, caso contrário, seremos o que somos: seres atuantes só quando nos convier.

Vander Clementino Guedes – xCHEx

Relato sobre o filme: O filho de Caim, que foi exibido no dia 09 de junho no CinePipoca, na Praça Benedicto Ramos Rodrigues – Praça da Ocupa, a temática dos meses de maio de junho é sobre a Saúde Mental. Organizado pelo Movimento Cultural Ermelino Matarazzo

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